terça-feira, 27 de outubro de 2020

Tempos de pandemia

São estranhos os dias correntes
Tão estranhos e tão deprimentes
Que as horas passam fechadas
Entre quatro paredes pintadas
Com medo de beijos e abraços
De quem connosco criou laços.

Confina-se o sentimento
Dá-se largas ao sofrimento
De quem só espera o momento
Dum sorriso, um olhar amigo
Um qualquer carinho antigo
Que faça desaparecer o perigo.

Perigo no ar, perigo no falar
Perigo também no tocar
Até quando? Nada será igual
Já não há como regressar.

segunda-feira, 26 de outubro de 2020

águas do morro

quase morro
no desejo
desse beijo.

aquece
e cresce
quase brasa
soprada
na fogueira
do teu corpo.

águas mil
de abril
meus caracóis
em passos lentos
agurdam sóis
para perto
sentir aberto
o húmus
deste alimento:
sonho e firmamento.

domingo, 25 de outubro de 2020

nascente

bebo desta água 
cristalina e
depurada palavra
como se fosse minha na 
nascente da sede 
que se advinha.

e nos lábios cerrados
saciados
selarei todos os desertos.

sábado, 10 de outubro de 2020

hora de acordar

a melhor hora
é aquela em que se acorda
e, do sonho vivo
vivido
em que se desperta
fica a felicidade de
ele permacer no respirar
do dia
acabado de chegar.

não sei
como a mente descansa
e dormindo
arquitecta o passado
como se fosse presente.

sei que tudo se mistura
num mundo panorâmico de
desejos e frustrações
algum calor
quando se sente amor.

houve dias que
apesar da bruma
as manhãs eram tão claras
que a luz se espalhava
uniforme
por todo o meu ser.

pode-se ser feliz
mesmo através do nevoeiro.