domingo, 7 de agosto de 2022

...

anoitece-me 

o poema

na rosa vermelha 

de sangue.

já não voa, 

já não sonha:

tem o ar 

preso na asa.

que hei-de fazer 

agora,

com esta flor 

esquecida?

guardá-la em livro 

não lido

seria

poema branco 

perdido.

já sei: vou pingá-lo

pouco a pouco

no caminho que terei.

quinta-feira, 28 de abril de 2022

o futuro, agora

não esperes por mim

disseste-me

ainda com sombra nos olhos

e montanhas de chuva

a cobrirem manhãs cinzentas.


não esperes por mim

também

disse-te

que hoje não há nada

que nos faça bem

a não ser esta ilusão

de que o tempo de espera

é um futuro a voar da mão.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

soltas



" - desculpe estar de costas."

- não faz mal. os anjos não têm costas.

"- quando atrás está um anjo."

- pois...vejo que sou um pecador.

....

" as meninas bem comportadas
estão no céu"

- por aí andam as outras!

....


da lágrima à nuvem

minhas mãos húmidas

de ternura.


.....


deixou de haver luar

acendi uma fogueira

só para te poder olhar.

poema adormecido

1.

do invisível pensamento
mais veloz do que o vento
ao rabisco do punho lento
pálido poema do momento.

folha branca assim ficou
e o poema adormeceu
só uma sombra ali poisou
e em surdina o declamou.

quem o conseguir compreender
ouvir
ou então, ler
bem o pode acordar
que é a ele que se quer dar.

2.

duas sombras do mesmo ser:
uma externa a compreender
e outra interior a sofrer.

seguiam-no
uma, enquanto havia luz
outra, a cada momento.

enraizadas no pensamento
pensou criar um sol
que varresse tal tormento.

trocou as sombras
uma, a da noite, ia com o dia
e, a do dia, com ele dormia.

















quando as aves partiram

ele ficou

quando o sol aqueceu

ele sombreou

quando o dia foi noite

ele arrefeceu

quando o pó prevaleceu

ele foi matéria.